Ainda de acordo com o Copernicus, os meses entre abril de 2023 e março de 2024 foram os 12 mais quentes no planeta, com temperatura 1,58ºC acima da média da era pré-industrial, no século 19.
A marca de temperatura de março soma-se aos recordes globais de calor de outros meses registrados, desde 2023. Primeiro, o planeta registrou o mês de junho mais quente da história. Depois, a marca foi sendo quebrada a cada novo mês, de julho do ano passado a março deste ano.
Some-se a isso que, pela primeira vez, o mundo registrou um dia com a temperatura média global 2°C acima da era pré-industrial. Foi no dia 17 de novembro de 2023. É bom ressaltar que o aquecimento de 2ºC, em comparação com níveis pré-industriais, é o limite considerado preocupante por cientistas, que alertam que um aquecimento acima disso pode ter impactos catastróficos e irreversíveis para a Terra.
E tem ainda mais dados preocupantes: julho de 2023 foi tão quente, que pode ter sido o mês mais quente em 120 mil anos, enquanto as temperaturas médias de setembro quebraram o recorde anterior em 0,5°C.
Mas, muito antes de institutos, universidades e pesquisadores se preocuparem com as questões climáticas e se debruçarem sobre o tema, o senador Gaylord Nelson já era um ativista ambiental. Isso ainda nos anos 60, no século passado.
Foi dele a ideia de realizar uma manifestação em defesa dos temas ecológicos, ocorrida em 22 de abril de 1970 nas cidades de Washington, Nova York e Portland. O protesto levou 20 milhões de norte-americanos (na época, 10% de população do país) para as ruas, na maior manifestação da história dos Estados Unidos.
Mas, infelizmente, a mobilização de Gaylord Nelson não foi suficiente para deter a destruição ambiental que, ele já percebia, era uma ameaça à vida na Terra. Pelo contrário, nunca se destruiu tanto o Planeta Terra como nas últimas décadas. E, mais uma vez, os números comprovam o tamanho da tragédia. Segundo a Organização das Nações Unidades (ONU), as emissões globais de gás carbônico (CO2), que estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 16 bilhões de toneladas em 1972 e atingiram 36 bilhões de toneladas em média no triênio 2019 a 2021. Portanto, entre 1900 e 1972, o aumento foi de 10 bilhões de toneladas e, entre 1972 e 2021, de 20 bilhões de toneladas. Em consequência, aumentou o efeito estufa, com elevação das temperaturas do Planeta.
Isso só para ficar nesse quesito e sem apontar as inúmeras consequências nefastas para o planeta e para os seus habitantes.
Apesar do pouco sucesso das iniciativas no sentido de se frear, ou pelo menos, reduzir a destruição do ambiente que nos cerca e do qual fazemos parte, ativistas seguem nessa tarefa. No mundo todo, pessoas, instituições, empresas, governos e outros entes buscam formas de se construir um mundo mais sustentável.
A celebração do Dia da Terra segue nessa direção. Após a manifestação ocorrida em 1970, outros eventos foram realizados em diversos locais, até que, em 21 de dezembro de 2009, a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) determinou que o 22 de abril seria dedicado à celebração do Dia Internacional da Mãe Terra.
Os países signatários dessa Declaração admitiram sua preocupação com a degradação ambiental e os impactos negativos na natureza resultantes da atividade humana. Também se comprometeram a realizar e convidaram “a fazer uso, conforme apropriado, do Dia Internacional da Terra para promover atividades e trocar opiniões e visões sobre condições, experiências e princípios para viver em harmonia com a natureza”.
Ações na Assembleia Legislativa
No âmbito da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), várias iniciativas são desenvolvidas nesse sentido, tanto por parlamentares quanto pela Mesa Diretora.
A começar pelo prédio sede do Poder Legislativo goiano, que foi projetado e construído seguindo padrões modernos de sustentabilidade.
O projeto arquitetônico do Palácio Maguito Vilela permite o aproveitamento da luz solar para iluminação e a ventilação das áreas de circulação. A economia da água também foi considerada. A água usada para limpeza e jardinagem vem de reservatórios de coleta de água da chuva e do sistema de ar-condicionado. Na área externa, 52 caixas de recarga de lençol freático favorecem a permeabilidade do solo.
Um bosque, inaugurado em 2022, completa o projeto de sustentabilidade. No local foram plantadas 50 árvores, sendo dez de cada variedade: acácia javânica, ipê-branco, ipê-roxo, resedá gigante e pata-de-vaca.
Além disso, vários projetos de iniciativa parlamentar têm a sustentabilidade como eixo. Entre eles, destaca-se a matéria de autoria da presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alego, deputada Rosângela Rezende (Agir), que propõe promover a sustentabilidade, através da troca de resíduos recicláveis por alimentos.
O Programa Troca Sustentável prevê que a população em situação de vulnerabilidade possa trocar resíduos recicláveis e óleo de cozinha, usado por alimentos, com o propósito de implantar a cultura da reciclagem, ajudar na segurança alimentar da população mais carente, bem como reduzir o volume de resíduos que seguem para os aterros sanitários.
O Programa Troca Sustentável prevê como princípios a contribuição para a segurança alimentar das pessoas e o estímulo da população em situação de vulnerabilidade social à participação da coleta seletiva de resíduos. Também estão, entre os objetivos da proposta, o incentivo à geração de trabalho e renda nas cooperativas de reciclagem do Estado, o estímulo à cultura da reciclagem e, ainda, em última instância, o auxílio no combate ao aedes aegypti, com a manutenção das cidades mais limpas.
“Para a concretização do projeto, a ideia é que a Secretaria de Desenvolvimento Social aja em conjunto com os municípios e uma agência móvel visite os núcleos para fazer a troca dos resíduos pelos alimentos frescos, que são adquiridos por meio do Banco de Alimentos e pela disponibilidade das centrais de distribuição”, explica a parlamentar.
A deputada justifica que o programa, que já é desenvolvido em alguns municípios goianos, é positivo não apenas para os envolvidos, mas para toda a sociedade, que será beneficiada de várias formas. “O programa merece e precisa ser replicado em todo o Estado de Goiás, a fim de que mais pessoas, em especial aquelas que se encontram em situação de vulnerabilidade social, sejam beneficiadas. Além disso, incentiva-se o engajamento da sociedade civil em políticas de sustentabilidade ambiental, em favor não apenas do meio ambiente, mas também do amplo exercício da cidadania e da geração de emprego e renda nas cooperativas de reciclagem”.
Outro projeto que busca reduzir os impactos das atividades humanas na natureza tem a assinatura de Antônio Gomide (PT) e versa sobre a questão das águas.
A proposta, que institui a Política Estadual dos Mananciais para Recuperação e Sustentabilidade Hídrica, tem a meta de garantir a preservação, a recuperação e o uso sustentável dos mananciais no Estado de Goiás.
A Política tem como diretrizes principais a recuperação e preservação das áreas de preservação permanente ao redor das nascentes e margens dos mananciais, a prevenção e combate ao descarte irregular de resíduos nos mananciais, a prevenção e combate ao assoreamento dos cursos d’água e a prevenção e o combate ao lançamento de efluentes nos rios, córregos e ribeirões.
A proposta de Antônio Gomide prevê também a implementação de parcerias com os municípios, a sociedade civil e o setor privado, através de programas, projetos e ações que visem a sustentabilidade hídrica. E, ainda, a avalição anual das atividades desenvolvidas para monitoramento e avaliação do progresso na recuperação dos mananciais.
Na justificativa do projeto, o deputado explica que os mananciais do Estado enfrentam desafios, como a ausência de mata ciliar, lançamentos clandestinos de esgoto e entulho, erosão, assoreamento e ocupação irregular. Ele alega que a Política Estadual dos Mananciais Sustentáveis é uma iniciativa que visa não apenas a recuperação ambiental, mas também a promoção do desenvolvimento sustentável em Goiás. “É nosso dever assegurar que as gerações presentes e futuras possam desfrutar dos benefícios de um ambiente equilibrado e de recursos hídricos abundantes e perenes”.
Uma iniciativa simples com resultados surpreendentes
Um projeto de extensão da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) acabou se tornando uma solução para um dos maiores problemas de qualquer cidade no mundo: a eliminação do lixo urbano.
A ideia inicial era plantar hortas urbanas no município de Lages, cidade catarinense, com cerca de 165 mil habitantes. A compostagem dos resíduos orgânicos estava incluída no processo, mas a criação de um novo método de compostagem acabou facilitando o processo e a própria instalação da horta.
O diferencial do Método Lages de Compostagem (MLC) é que os resíduos orgânicos são depositados diretamente no solo, sem a necessidade de uma composteira. Segundo o engenheiro agrônomo e professor da Udesc, Germano Glütter, um dos desenvolvedores do projeto, a horta é produzida em cima da compostagem, o que traz várias vantagens, entre elas a redução de cerca de 70% do trabalho de fazer uma horta. “A gente não produz um adubo orgânico para depois fazer uma horta. A horta é a compostagem. Isso mudou tudo. A gente não capina mais, não vira a terra, a gente economizou 90% da água de irrigação. E é por isso que disseminou”.
O método desenvolvido pioneiramente em Lages, mas que hoje já está sendo reproduzido em outras cidades, ainda reduziu o tempo de compostagem. De acordo com o professor, entre 15 e 40 dias o material está pronto para que as mudas de hortaliças sejam colocadas.
O processo do MLC é feito basicamente em cinco etapas: a separação do resíduo orgânico, que nesse método pode incluir outros itens, que não são admitidos na compostagem tradicional, como papel toalha, papelão com gordura (a caixa de pizza é um exemplo), ossos e resto de carne. Em seguida, essas sobras são depositadas em camadas de 20 a 30 centímetros, diretamente no solo, sem necessidade de preparar a terra. Depois é preciso misturar e cobrir as sobras com algum material orgânico de difícil decomposição (MODD), como serragem, folhas secas, grama cortada. O próximo passo é furar esse material no mínimo 3 x por semana, para que ele faça a oxigenação. Quando o material estiver pronto, o que acontece entre 15 e 40 dias (esse tempo depende de alguns fatores), as mudas podem ser plantadas. As próprias raízes finalizam o processo de compostagem.
Outra facilidade do método é que ele pode ser feito em qualquer espaço, por menor que seja, até mesmo dentro de apartamentos.
O projeto foi implementado inicialmente nas escolas da cidade de Lages, mas de forma muito tímida. “Foi um trabalho de formiguinha mesmo. Procurando as escolas, conversando com diretores e levando o projeto. Só depois de 4 anos, a gente conseguiu que o projeto de compostagem escolar fosse um projeto permanente. Mesmo que mude governo, o projeto tem a obrigação de continuar”, explicou o professor.
O projeto se expandiu tanto que se transformou em um programa de eliminação do lixo orgânico no ambiente urbano. Aos poucos ele foi levado para instituições e empresas, mas as escolas ainda são o principal público, já que as crianças atuam como replicadores da ideia. “A escola é como uma passagem de formação para as famílias. A gente desenvolveu uma metolodogia que as crianças levem isso para a casa. E a gente teve muito sucesso nisso aí. Então a gente chega numa escola que tem 500 crianças e isso pode mudar o hábito de 400 famílias que a gente nunca visitou”.
E os hábitos dos moradores têm mudado ao longo do tempo. Os números mostram. O Brasil gera hoje, em média, por pessoa, 380 quilos de lixo ao ano. Em Lages, esse número é de 214 quilos. “Os números que temos hoje mostram que Lages é a cidade com a maior redução de lixo no Brasil. A gente está 43% abaixo da média nacional. Isso representa 27 mil toneladas menos que uma outra cidade do mesmo tamanho de Lages. A média de cidades com população igual gera em média 62 mil toneladas de lixo por ano. Em 2023, Lages gerou 35 mil toneladas”.
Além dos benefícios ambientais, o projeto da Udesc levou também a uma economia na coleta e tratamento dos resíduos. Hoje, a cidade deixa de gastar cerca de R$ 8 milhões por ano, em função da redução na geração do lixo.
E não para por aí. A comunidade envolvida no projeto ainda teve muitos outros ganhos. Com a participação nas atividades, os alunos melhoraram a participação, o desempenho escolar e até a habilidade de comunicação. E a população em geral agora tem alimentos de qualidade à sua disposição. “Boa parte disso é produção de alimento, que não se produzia. Isso é comida de alta qualidade, produzida dentro de um ambiente urbano. Isso aí é um empoderamento, uma valorização muito grande do cidadão”, avalia Germano Glütter.
Outro efeito do projeto foi o aumento da reciclagem dos resíduos secos. Com a separação do orgânico para a compostagem, o lixo seco, fica praticamente, pronto para a entrega para a reciclagem.
Mas o impacto maior dessa ação ultrapassa, e muito, os limites da pequena Lages, em Santa Catarina. Alcança todos os habitantes do planeta. A análise do professor Germano é perfeita. “8% dos gases do efeito estufa emitidos hoje no mundo vêm de aterros sanitários, vêm de lixões. E a gente ainda produz o metano, que é trinta vezes pior que o gás carbônico. E a questão de você produzir alimentos próximo da sua casa, alimentos orgânicos, que não vêm do outro lado do país, que não vieram em um caminhão queimando óleo diesel. Se você for somar tudo isso aí, você não gerar lixo orgânico e fazer isso aí se transformar em comida perto da sua casa, é um impacto enorme”.
E esse projeto é apenas uma amostra do que pode ser feito, de forma relativamente simples, para melhorar e salvar o nosso lindo, mas tão maltratado, Planeta Terra. Se você também quer fazer algo por ele, no site https://diadaterra.org/ há uma série de sugestões de ações que podem te ajudar. Faça a sua parte!